Maria Melo
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Maria Melo

Frágeis, maiores, (i)mortais

O Corpo como repositório de acumulação efémera - fev 2017
Para a realização deste projeto de pintura procurei o apoio duma instituição que prestasse cuidados de geriatria, os seus utentes aceitaram posar para mim  uma vez por semana durante uma a duas horas por sessão. O projeto foi desde logo acarinhado por todos, utentes e funcionários. As sessões são sempre acompanhadas por vários curiosos que se distraem a ver e a comentar o meu trabalho.  Desta interação resulta para mim um maior conhecimento das suas histórias de vida permitindo-me detalhes que incorporo na pintura ou na composição tornando a representação das figuras quiçá mais humana. Neste processo existem constrangimentos de tempo e espaço que condicionam de forma muito relevante a construção pictórica do quadro, nomeadamente e apesar da enorme boa vontade dos meus voluntários, dadas as suas dificuldades físicas e motoras, é quase impossível que mantenham a pose por muitos minutos seguidos, pelo que tenho optado por complementar o registo com esboços e fotos que depois uso no atelier para completar a pintura.
Este processo de proximidade com as figuras que pretendo captar para a tela trouxeram para a minha pintura uma maior genuinidade, uma sinceridade que não havia encontrado antes com outros recursos. 
Gosto de ter o total controlo da imagem, ela é apenas fruto da minha perceção e habilidade, não existem contaminações ou apropriações. Agrada-me essa autonomia.
Pretender que as imagens criadas, por si só, falem da condição humana destas pessoas, da sua fragilidade, dos seus sentimentos, mas também da sua força e das suas conquistas é algo aparentemente impossível por ser tão redutor, como conter tanto num espaço tempo tão reduzido? Apesar da enorme pretensão ela move-me e incentiva-me a consegui-lo, da mesma forma que sempre me moveu a impossibilidade de dar vida a um desenho ou pintura.
Este projeto tem o dom de me obrigar a pensar para além da técnica e da resolução de exercícios ou provas, requer que faça uma introspeção no sentido de descobrir quais os assuntos e temas que podem absorver a minha atenção e levar-me a descobrir a minha própria caligrafia na pintura. 
Estudar e representar pictoricamente a condição humana pode ser o fio condutor, a justificação que precisava para pintar a figura humana que é o tema que mais me atrai em pintura. Neste projeto centro o tema no envelhecimento e questiono vulnerabilidade física e emocional levando  a imagem para além da verosimilhança acentuando-lhe as cicatrizes, as marcas do tempo e da vida são destacadas para evidenciar a natureza humana sobrepondo-se à imagem real das figuras modelo. 
Cada tela representa um esforço de conseguir essa representação, encaro-as como tentativas que me obrigam a questionar permanentemente os recursos utilizados. 
São talvez os constrangimentos do processo a que me propus, como o de iniciar o trabalho in loco, escolhendo as pessoas ou sujeitando-me a elas bem como as situações que quero transpor para a tela, e também o próprio processo de montagem da tela que parte duma dimensão que não é pensada para aquela composição em particular, antes é assumida como ponto de partida, como recetáculo das personagens num espaço tempo momentâneo, que mais definem o resultado final do trabalho levando-me a uma constante luta entre aceitação rejeição. Aceitar a figura, a composição , a luz ou o que quer que aquela realidade me dá e o desafio de conseguir a partir disso uma imagem dentro dos parâmetros de composição, luz e atmosfera esperados e expectáveis. 
Questiono-me se este processo acrescenta algo ao resultado obtido e se porventura se valoriza em relação a processos mais expeditos de produzir uma imagem estática (fotografia).  Apesar de ter vindo a corrigir os desenhos iniciais com base nas fotos tiradas nas sessões, sinto que nos minutos de pose que me permitem os modelos, as expressões que resultam são mais genuinamente próximas da sua realidade emocional e sentimental do que quando posam momentaneamente para uma máquina fotográfica. Essa constatação leva-me a confiar neste processo e a começar a aceitá-lo com uma possível regra para os meus trabalhos no futuro.  

O meu grande agradecimento ao Centro Comunitário da Gafanha do Carmo especialmente a todos os que participaram nesta aventura.


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